quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O RIO DO RESTO, OU O RESTO DO RIO PARTE 2


O RIO DO RESTO, OU O RESTO DO RIO ( PARTE 2)

Pude constatar a dimensão do abandono DO RESTO com muito pesar quando, há pouco menos de dois meses, vindo de Petrópolis( cidade onde resido atualmente) estive em Madureira após quase dois anos sem passar pelo famoso “lado do mercadão”. Esse "passeio"  é uma descida de serra que alguns Petropolitanos ainda se arriscam a fazer para encher suas sacolas com artigos mais em conta, embora meu propósito não fosse o mesmo(e não sou Petropolitano). Nada demais, portanto.

Para a maioria dos frequentadores, Madureira sempre foi o bairro dos sentimentos opostos “odeio, mas adoro por ser tudo mais barato”, “feio e sujo, mas é bom para comprar”, “adoro, compro muito e pago pouco, pena que é cheio de ladrão”, “perigoso, mas vale a pena”. Creio que quase todos já ouviram comentários semelhantes.






Eu já fui um andarilho de Madureira. Estudei no Colégio Souza Marques por cinco anos,e naqueles tempos de adolescência era comum se aventurar pelas lojas do Polo 1 e nos cinemas, sem falar no Bobs "pé sujo" da Edgar Romero. Mais tarde, em outro momento, veio o “Madureira Shopping” , que no inicio até se revelou um Shopping decente, com uma boa Livraria e lojas de certo gosto, embora depois tenha se tornado mais uma galeria de luxo dentre as muitas que preenchem o bairro. Mesmo na minha tenra infância, me recordo das aguardadas idas "ao maior centro comercial do Rio”(superava o Saara) para comprar roupas, sapatos, peixes ornamentais e às vezes, eletrodomésticos, tudo com pouca grana(rendia horrores, isso em pleno REGIME MILITAR,rsrs). Era legal, ficava ansioso pelo fim do mês, todavia, algo sempre me incomodava em Madureira desde moleque: a sujeira.

Seja por insensibilidade nata, ou por insensibilidade adquirida o fato é que a maioria esmagadora da população passa indiferente a certos detalhes que preenchem o cenário de um bairro como Madureira, o que significa dizer que não são detalhes, mas antes,o quadro geral. Me parece que a maioria da população é pouco afetada pela sujeira, falta de zelo e demais horrores urbanísticos.  Mas não sejamos românticos, afinal,  Madureira sempre foi assim: imundo, esburacado, sem mimos visuais(salvo os apelos do comércio), em suma, feio mesmo. No entanto, até certa época o bairro preservava uma aura de “lugar querido”, tinha o seu “status” e atraia até os distintos “tijucanos” e não raro, residentes da zona sul amigos do bolso e bem resolvidos. Mas de uns anos para cá, o bairro icônico do samba e da pechincha está sentindo o gosto amargo da crise, tanto comercial como socialmente(que nunca foi referencia), pois nunca se viu tantas lojas fechadas e nem comerciantes reclamando em épocas normalmente prósperas. O peso da escassez se abate sobre o grande feirão de "Madura".

Um amigo querido dono de um Bazar/Livraria localizado no há muito convalescente "Shopping Tem Tudo((na verdade TEM NADA), já havia previsto o declínio do bairro caso a prefeitura não tomasse as medidas cabíveis para salva-lo da decadência. E atendendo a pedidos, eis que a população e o comércio foram agraciados com a oitava maravilha do mundo: O PARQUE DE MADUREIRA!  E mesmo tendo feito essa impressionante "benfeitoria social, suficiente para sanar todos os problemas críticos da região", nunca se viu e ouviu tantos tiroteios nas adjacências, tantos roubos e tanto descuido, muito mais do que antes.

Ok, deixemos de deboche e ironia: O “Parque de Madureira” é mais uma tentativa para engrupir o povo com base na estratégia romana do “pão e circo”.  E os donos do circo são tão ousados que anunciam o feito como “o mais novo cartão postal da cidade”. Até que é bonitinho o suficiente para dar chance  às pobres crianças que quase nunca viram grama e árvores, mas basta por os pés para fora daquele éden artificial para ser transportado imediatamente para o inferno real.



Melhor um parque ou consertar o que existe? Ou quem sabe, ambos?


Para a minha pessoa (fresca diriam alguns) é praticamente impossível não ser afetado frente a tanto desleixo e deterioração que perfazem o perfil não apenas de Madureira, mas de quase toda a cidade do Rio, do RESTO. A sujeira e o relaxamento com aspectos mínimos sempre me foram particularmente incômodos, embora eu nunca tenha ficado tão perplexo e chocado mediante o desfilar de relaxamento e porcarias ao longo do meu passeio pelo sétimo circuito do inferno. Para mim chega a ser tão desesperador, que nem mesmo fechar os olhos para simular um cochilo é possivel em decorrência de pesadelos imediatos com o cenário externo.

Em parte acredito que o impacto tenha sido maior pelo fato de eu estar residindo numa região semi-rural, verdejante e silente(cheia de problemas é verdade, embora de proporções microscópicas comparados ao Rio). Todavia, pensando com mais clareza, esse contraste não seria suficiente para explicar minha tristeza, pois o que eu vi extrapolou o aceitável, sobretudo quando nos deparamos com as propagandas massivas sobre os encantos, os investimentos e as promessas de melhoras “para todos” (chego a ter náuseas quando leio e ouço essas cretinices). Claro que esse tipo de propagandismo cretino serve apenas para aliciar o proprio ego dos "benfeitores" e da população idiotizada.


Então, a bordo do ônibus da Única, no conforto de uma poltrona macia e no frescor do ar condicionado beirei a depressão após ter ficado um bom tempo sem passar pela região cortada pelo BRT Transcarioca, um eixo formado por alguns dos Bairros mais emblemáticos da outrora tranquila vida dos subúrbios de ruas arborizadas, casas estilo anos 50, famílias tradicionais e fins de tarde perfumados com aroma de café e  pão quentinho. Claro e desnecessário dizer esses bairros sempre conviveram com seus “DARK SIDE”, contudo, parecia existir algum limite entre essas duas faces, elas coexistiam em certa “harmonia”, ou como preferem os cínicos, “com mais respeito”.

Amigos: entendam que quando uso a palavra DEPRESSÃO não o faço de modo figurativo, antes, emprego o termo no seu sentido literal, ou seja, como um estado psíquico de abatimento e desanimo, de tristeza e pessimismo incontinentes. E esse se deu após meus olhos e senso crítico terem sofrido um ataque covarde e indefensável, cujas sequelas perduraram mais do que era suposto. E acreditem: O ataque foi desferido por um monstro de verdade, nascido há muito tempo e que  se agiganta sem detença ao longo dos anos. O nome do monstro? INDIFERENÇA.

Vou expor as razões que me deixaram vulnerável ao ataque e a sequente depressão, mas que em contraparte também contribuíram para que eu chegasse até aqui e escrevesse esse mixe de desabafo e vergonha; e que encerra certo clamor as cabeças inteligentes que ainda conseguem ver alguma luz de vela no profundo abismo da burrice e da estupidez que condenaram nossa cidade a rePUTAção de violenta, vagabunda e porca.



PARQUE XANGAI QUE NADA! CONHEÇA A  ZUMBILANDIA!

Vou começar pela constatação de “quadros” que permaneceram irretocáveis desde a época em que eu pegava o lendário 910 para ir de Madureira até a Ilha do Governador, percurso esse que fiz por uns bons anos em diferentes períodos (a ultima vez foi em 2006, ou seja, há dez anos). Eis, então, o meu relatório de bordo: Os Bairros da Penha/Penha circular, Olaria e Vicente de Carvalho continuam largados, dominados por imóveis vazios, muitos dos quais completamente abandonados e “decorados” com aquelas inscrições indecifráveis denominadas “pichação”, que somados a sujeira das ruas desertas e mal conservadas configuram um cenário típico de filmes pós-apocalípticos nos quais zumbis se arrastam tropeçando uns sobre os outros (é quase isso, a diferença é que eles tropeçam nos buracos, e de tão medonho que é o cenário nem eles se arriscam muito por aquelas plagas).

E imaginar que na minha infância, um dos meus programa preferidos era encarar o 952 nos fins de semana para ir ao parque Xangai (mesmo morando na Taquara). Agora, porém, ir para essa área é fazer uma incursão pela Zumbilandia ( a prefeitura poderia ganhar uma grana com esses bairros: aluga-los para filmagem de filmes de horror!). Até postei uma foto que não me faz mentir sobre o estado de "putrefação" dos bairros mencionados(o detalhe é que somente uma loja funcionava, e era justamente uma funerária!!!!).

Mas ao ver o corredor do BRT despontando na Penha, surgiu um laivo de esperança de que alguma coisa poderia ter melhorado a reboque da via expressa, afinal, "prometeram..."


Acreditem: não é domingo, mas sim, um dia se semana normal no Bairro de Olaria. Detalhe que apenas a funerária está de pé, rsrs


 BRT DA DEPRE


O BRT, esse "legado fabuloso" que nos iguala aos japonenses (conforme alardeia a propaganda imbecilizante, estupida e mal caráter), nos faria mais dignos e honrados com o tripé “conforto - rapidez - economia”. E mais além, brindaria os Bairros servidos por ele com benfeitorias na urbanidade. Vocês lembram quando o Senhor DUDU “prometeu” que haveria "benefícios adicionais” para os Bairros cortados pelo BUS RAPID TRANSIT (Chique...)? Eu lembro. Lembro das falas decididas e convincentes sobre a revitalização que daria uma turbinada econômica e imobiliária no eixo Madureira – Olaria. Eu, de minha parte não acreditei, embora desejasse muito que acontecesse, no entanto, “gato escaldado rio ao largo”.


Exatamente igual ao Japão...


Fosse pelo histórico de promessas apenas prometidas, fosse por uma logística ilógica e tacanha na concepção e execução de projetos mal planejados, meu entusiamo se esvaiu sem demora. E para sentenciar de vez “a morte da finada esperança”, um velho amigo engenheiro contratado para trabalhar nas obras dos dois BRT, me confessou, logo no inicio da Transfaroeste que ambas as obras eram "uma esmola” para uma capital do porte do Rio. E eu, ingênuo por negligência, perguntei “então não será uma obra de primeira conforme as maquetes apresentam?” Com um humor saudavelmente sarcástico ele respondeu: “Sim, mesmo que não seja suficiente para dar conta, poderia até ser de primeira caso não fosse planejada por idiotas de primeira!.”

O papo se estendeu, o carretel foi sendo desfiado e o conteúdo revelado: “Cara, isso aqui é um embuste para lavar grana. Nenhum engenheiro de transito ou urbanista em sã consciência aprovaria o BRT como solução de mobilidade para uma cidade do tamanho do Rio, salvo como complemento aos trens e ao Metro. Vão acabar com 80% das linhas normais e jogar toda a demanda para o BRT, que não terá condição de suprir esse gargalo. Pior ainda é o traçado do Transcarioca, que corta áreas com elevado indice de violencia e vandalismo. Pode escrever: em menos de um ano o sistema vai dar pau por ser sub-dimensionado, não vai aguentar a demanda e ao mesmo tempo resistir às adversidades ambientais” (ele quis dizer depredações, vandalismo). E continuou: “Inicialmente as empresas de ônibus (as mesmas que operam a frota comum) vão tentar fazer de tudo para comprar ônibus articulados mais curtos e baratos. Os caras querem gastar pouco e cobrar muito,fora as falhas estruturais já evidentes mesmo antes do término da METADE das obras”. E as melhorias nos Bairros? “Os bairros vão piorar, pode acreditar.”

Podemos, portanto, depreender que as falhas e o não cumprimento das metas do projeto já eram previstos. Meu amigo estava certo, meu espirito felino idem: Ao passar pelas localidades supostamente “ressuscitadas” pelo BRT eis que me deparo com o oposto daquilo que julgamos ter vida, viço e brio: abandono, desordem, imundície, empobrecimento e desvalorização (impressiona a quantidade de imóveis à venda). Portanto, o que supostamente traria mais benefícios contribuiu para agravar o que já estava moribundo, ou seja, cortaram o oxigênio de vez. Não preciso mencionar os problemas operacionais, como as seguidas erosões nas pistas da Transoeste e a própria falta de preparo de algumas empresas para operar seus veículos, que já estão sendo substituídos face ao sucateamento de várias viaturas. 

Em suma, ao transitar ao longo do corredor expresso(no caso o Transcarioca) feri meus olhos com um panorama hostil, deprimente e duro de aceitar, um desfilar de paisagens desoladas e insalubres que não podem induzir nada de bom em ninguém. E imaginar a quantidade de recursos queimados em nome de uma economia e rapidez que está cobrando caro por outras vias (e cobrando mesmo, pois você paga 3,80 correndo risco de perder muito mais do que isso caso sua carteira, bolsa e celular sejam confiscados). “Ah, mas o projeto é novo, logo eles irão melhorar”. Será mesmo? Quem se lembra do Metro há 15 anos não consegue acreditar no que ele se tornou de uns tempos para cá, isso porque a mentalidade afunilada do dinheirismo que persuade o povo com a irresistível oferta do “economize até três passagens em um dia” não cria uma estrutura proporcional à demanda. Bem, voltemos ao meu passeio...  


VAIS AO LOBO

Vaz Lobo é um dos Bairros mais judiados e deprimentes do eixo Transcarioca, pois mesmo que nunca tenha sido um bairro modelo, pelo menos na minha infância dos anos 70/80 era possível ver “vida” nas ruas, dava para brincar e comer pipoca na praça sem maiores neuras. Era o típico Bairro de subúrbio daqueles tempos em que as pessoas não se envergonhavam de dizer que moravam ali, como por exemplo, uma Tia que morou pertinho da Praça de Vaz Lobo por quase 30 anos, até meados dos anos de 1990. Nessa época ainda dava “pra aturar”, embora as coisas já estivessem cheirando mal e dando sinais claros de que o Bairro ruiria sem tardar, caso algumas medidas não fossem tomadas frente ao franco declínio do comércio e ao aumento sem controle da bandidagem.


Cenário tipico de Vaz Lobo e adjacências: mesmo com o BRT na porta, prédios totalmente pichados e comércio moribundo. Abaixo , um arrastão oficial nas ruas do Bairro.



E foi isso que aconteceu: Vaz Lobo se tornou um abismo sem fundo, tão escuro e tenebroso que o comércio não pôde subsistir, apenas a criminalidade prosperou se nutrindo da ausência e omissão estaduais para encher a boca e dizer “tá tudo dominado” (Acho até que poderiam mudar o nome do Bairro para Vais ao Lobo). E me chocou ter visto verdadeiros energúmenos caminhando pelas ruas dali em pleno começo de tarde, sinal de que as trevas já não temem a luz; e alguns desses energúmenos estavam na eminencia de “meter” algum desprecavido, enquanto outros se arrastavam a esmo sob o efeito do crack ou de qualquer outra porcaria que dê um barato melhor do que a realidade miserável onde estão inseridos e para a qual acabam contribuindo para arruinar de vez (é o preço da negligencia...).  Uma passageira que estava a bordo do ônibus, comentava com a amiga: “nossa, que lugar sinistro, não tem quase ninguém nas ruas e o que tem dá medo, parece domingo, tudo fechado, cruz credo”. E era uma terça feira típica, às 15:30 da tarde, dia claro, sem nuvens. A outra disse: “eu venho aqui (Madureira) por causa dos preços, pois acho isso aqui horroroso, sujo, cheio de assaltante, não sei como as pessoas conseguem morar aqui, Deus me livre”. Pois é SEU PREFEITO, corra atrás de argumentos que silenciem esses comentários, mas por favor, não me venha falar do Parque de Madureira, por favor. 



Essa é a revitalização: uma estação de Brt. Ponto.


Vais ao lobo? Protesto contra a violencia

Sobre os drogados: Não nos compete julga-los tão severamente como muitos pretendem em razão do conjunto de causalidades por trás desse estado, mas também nada justifica deixar correr solto como se “não fosse problema do Estado as escolhas pessoais de cada um” (já ouvi essa sandice de uma figura de peso...). Em verdade, esse consumo em massa de drogas é uma das muitas exteriorizações do adoecimento da própria estrutura social vigente, que por sua vez é consequência de “vícios” dogmáticos e da inépcia político-administrativa decana que infecta esse projeto de nação. A Droga maior, ao meu entender, é ver tanto dinheiro desperdiçado com frivolidades e maquiagens em lugar de tratar de uma questão que já ultrapassou a emergência! É absurda a inadimplência do poder publico para com a população, que ainda tem a cara de pau de expropriar o bem alheio se o cidadão estiver “inadimplente” com o IPVA do SEU automóvel. Além de NÃO TER MORAL para esse ato abusivo e aviltante, enche os bolsos dos seus favorecidos terceirizados. Mas o povo em seu comodismo secular, também responde por isso quando se omite de cobrar o que lhe é de direito...

Continuando o “passeio” (e já que me lembrei do Parque Xangai, parecia que eu estava a bordo do trem fantasma), foram várias observações em conjunto que formaram uma visão sistêmica de todo aquele cenário de horrores “normalizados”. Uma das observações veio do BRT, e diz respeito a uma prática que descobri ser banal e amplamente estabelecida por certa classe de “usuários”: A gratuidade. Nossa, que bom, né? Sim, legal, pena mesmo que não valha para todos, sobretudo para os “caretas” cujo senso de dignidade não lhes permite transgredir certos padrões de conduta. Mas tem aqueles que não conhecem esse senso (ou talvez não saibam o que é isso, ou não queriam saber, ou se sabem, ignoram) e, portanto, usam e abusam dos benefícios de não ter ou de não querer ter qualquer senso.  Digo isso por ter visto três “indivíduos” (sejamos educados, não é mesmo?) “entrando” pelas portas laterais (exclusivas para embarque/ desembarque) da Estação Guaporé. E foi impressionante a extrema facilidade com que praticaram o ato (também notado por outros passageiros do meu ônibus), sem o menor esforço (é o princípio do menor esforço, válido para tudo). 

Muitos podem pensar que estou sendo ingênuo em considerar esse gesto algo inédito e fora do comum em vista da “tradição” do CALOTE fazer parte do carioquismo (quem nunca deu uma ideia “no motor” para abrir a porta de trás quando o embarque era na traseira?), todavia e sem querer legitimar o calote, o que ocorre no BRT é INVASÃO, que quando não se dá pelas portas laterais (que me parece ser um jeito mais elegante) se dá pela roleta (padrão Metro), facilmente transposta pela galera que sonha em ser atleta. Quem sabe, aproveitando a deixa, os sociólogos “rubros e canhotos” não defendem essa prática como uma nova modalidade de “salto” sobre obstáculos, afinal, poderiam aproveitar o ensejo das OLIM-PIADAS para validar oficialmente essa forma de atletismo, que junto ao arremesso de facas teria grandes chances de garantir, pelo menos, duas medalhas para nosso País(também poderiam incluir TIRO PERDIDO NO ALVO).


Passagem gratuita: Beneficio para poucos privilegiados

Foi interessante notar que havia um segurança dentro da estação, mas assim que os três “rapazes” educadamente adentraram o recinto, o segurapança virou-se para o lado oposto e fingiu não saber o que se passava (é o melhor que ele faz, afinal, como esperar que um segurapança sem treino, desarmado e solitário faça alguma coisa?). Nem ligar “pra Poliça” adianta, pois essa tem estado visivelmente empenhada numa missão muito mais importante do que qualquer outra: caçar os perigosos meliantes que circulam por aí cometendo o hediondo, vil e nefasto crime do IPVA atrasado (é tão perigoso que considero mais adequado a presença do BOPE para executar uma operação de tão elevado risco). Nem quando tem arrastão a Poliça aparece, e se aparece, logo desaparece, passa batida como assim revelou a filmagem de um arrastão na Estação BRT Vicente de Carvalho e que foi alvo de muita indignação( couro comendo, a galera arrepiando e a Poliça passa direto...). Explicaram, deram alguma resposta ou argumentaram sobre a passagem meteórica da viatura pela Estação enquanto o bicho pegava dentro e fora da mesma?

Os “jovens” da Estação Guaporé que burlaram o procedimento de praxe que lhes assegura o direito de uso do beneficio (ou seja, pagar) pareciam estar se dirigindo ao trabalho, que se bem entendi, era dentro do próprio BRT, talvez como “fiscais alfandegários” responsáveis pelo confisco de bens que eles julgassem extrapolar a cota permitida para aquele tipo de viagem. Eu reconheço que o meu espanto não foi com o ato em si, pois esperava ver isso numa região há muito largada. O que me surpreendeu foi a facilidade com que isso pôde ser feito. Foi claro: eles vieram andando por fora, bem na pista do ônibus, subiram no parapeito e entraram sem se preocupar se alguém estava olhando, não demonstraram os trejeitos de quem estava “no erro”! Não fosse a boa índole do cidadão de bem, ninguém precisaria se esforçar para ter gratuidade, tão  simples é o acesso. Um serviço de Primeiro Mundo (feito no ultimo deles) não podia prever esse tipo de comportamento, claro que não...

Bem, o trajeto foi sendo vencido com certa facilidade e eu continuei a ver o desfilar de cenários plúmbeos e deprimentes, quando de repente, ao deter meu olhar para o interior de um BRT que emparelhou com meu ônibus, próximo a Vicente de Carvalho, reparei que o trio que havia invadindo a estação Guaporé estava embarcado. E... Surpresa!!!!! Justamente na movimentada Estação Vicente de Carvalho um desses “rapazes” saiu correndo de dentro do BRT com um telefone celular em mãos que não parecia ser seu, nem tanto por questões superficiais ligadas a sua aparência, mas antes, pelas pessoas que saíram no seu encalço para saber como ele havia conseguido aquele “BEM”. Os outros dois vazaram em sentido contrário ao dele, e pelo pouco que pude ver(o sinal abriu e não deu para ver com exatidão), um motorista abriu a porta do carro em cima de um deles com a intensão de derruba-lo, e aí a confusão reinou. Felizmente, o motorista do meu busão saiu do rolo.

Já em Madureira, aproveitando o transito parado, puxei papo com o motorista da Unica para saber se ele gostava daquela linha. Sem pestanejar, ele disse “detestar” a rota por “medo de problemas como aquele em Vicente de Carvalho e coisas piores”. “Piores?” perguntei. “Gente estranha fazendo sinal junto com passageiros conhecidos, tiroteio e assaltos de Vaz Lobo até a Brasil, fora a atenção redobrada nos fins de semana para não atropelar esses pivetes que fogem das estações depois de roubar lá dentro. Eu mesmo quase atropelei dois na semana retrasada bem na frente da estação Pedro Taques. Isso aqui é abandonado demais, a gente circula sempre tenso, quase não se vê Policia, somente nessas blitz caça níquel”. E aí DUDU, qual vai ser a justificativa com o seu sedutor e bem resolvido discurso lesa-consciência?

Continuando o papo, perguntei se ele já passou por alguma situação perigosa naquela linha: “Graças a Deus não, pois sou folguista, mas se eu fosse efetivo nessa linha não ia gostar, tenho colegas daqui que já foram abordados depois do viaduto da Penha, e também passageiros que foram assaltados no ponto, esperando o ônibus. Se a pessoa é conhecida e mora em Petrópolis, a gente dá um jeito, leva e depois resolve, eu mesmo já tirei do meu para pagar passagem de um rapaz que teve mochila, carteira e os tênis roubados”. Esse tipo de depoimento poderia servir funcionalmente aos nossos ilustres dirigentes, cuja cara de pau em declarar que esses casos são “eventos isolados” é o mesmo que dizer “seus trouxas, é assim mesmo, isso é Rio de Janeiro, morar na cidade maravilhosa tem um preço!”. É verdade, tem um preço.


Grafitismo no BRT: marca carioca


Fora esses “eventos isolados”, exceções em meio a um dia a dia ordeiro e sem dores de cabeça (não é mesmo usuários?), não deu para deixar passar em branco o lastimável estado de conservação  de algumas estações do BRT: pichadas, portas danificadas, revestimentos arrancados e até esgoto no acesso. Mas é provável que, sem tardar, algum intelectualóide “canhoto” das “massas menos favorecidas” venha defender e legitimar as pichações e as avarias como uma nova forma de “arte” que “expressa a revolta e o incontentamento para com a elite(traduzindo: com eles mesmos)”.


 BRT DA DEPRESSÃO!

Todo esse contexto me fez futicar o Tio Google para saber sobre as estatísticas de ocorrências “negativas” com o BRT. E que susto! Como ando meio alienado em relação a certo tipo de mídia, fiquei pasmo com a quantidade de reportagens e posts em redes sociais sobre a sucessão de “ecas” tanto operacionais como “não operacionais” (assaltos e vandalismo) relacionadas ao sistema BRT. Não por acaso e muito oportunamente, criaram a expressão BRT DA DEPRESSÃO! E era assim que eu me sentia só de ver! Não imaginava ler nada muito diferente de relatos feitos por conhecidos meus que tiveram celulares e carteiras “batidas” dentro do Transcarioca( soube de pessoas que passaram a usar antiansiolíticos depois que foram obrigadas a usar o BRT)  e do Transfaroeste, e mesmo pela minha rápida experiência no começo do ano ao viajar da Barra para Taquara e depois, em outra ocasião, da Barra para o Recreio, essa ultima sobremaneira tensa devido a presença de usuários se drogando dentro do coletivo.

Eu já conhecia todo traçado do Transfaroeste e sabia do estado vergonhoso das estações “pós túnel”( me lembra o túnel do pós morte relatado por quem esteve na porta da morte e não passou)devido as ondas de vandalismo (cara, imagina no verão, credo, Oh Deus! Intervenha Senhor, intervenha Senhor...Prefeito). E pensar que os propagandistas engraçadinhos do governo pretendiam fazer do BRT um legado para a (i)mobilidade e para as Olim-piadas! Para os cariocas tudo bem, é um povo que de modo geral aceita tudo, reclama aqui e ali, mas continua sempre alegre, sorridente e amigo(?). Agora fico imaginando os Turistas (que dependendo do País de origem são orientados a não utilizar o BRT, e em casos mais sensatos, QUE ASSISTAM OS JOGOS AO VIVO EM CASA) desembarcando no Galeão, com seus mochilões que mais parecem um contêiner, a maioria ingênua e desinformada sobre o safári que lhes espera (é para esse tipo de safári que eles tinham que vir armados com  dardos tranquilizantes). Até me ocorreu uma cena tragicômica: na bilheteria do BRT eles são atendidos pelo psicopata Anton Chigurh do filme Onde os fracos não tem vez, interpretado pelo Javier Barden, que cobra a passagem tirando cara ou coroa para ver se os “gringos” chegam ou não do “outro lado” da cidade, rsrsrs. Imaginem o Javier Barden com aquela frialdade polar, incapaz de esboçar qualquer emoção pronto para meter um tiro de ar comprimido no meio da testa do felizardo que errasse a escolha; sim, pois pobre daquele que acertasse, rsrs! Amigos, mediante tudo isso, haja humor para suportar tanta enganação e cara de pau!

O mais absurdo é a imposição do BRT sobre o povo, pois em muitos bairros e trajetos não existe alternativas, são raras as exceções. Criaram um sistema(?) que não supre todas as linhas extintas, e mesmo que entupam os corredores com mais veículos, não daria certo, pois geraria lentidão. Conheço vários usuários que detestam usar o BRT, mesmo com alguma economia, pois  além da superlotação e insegurança, são obrigados a fazer transferência para as linhas alimentadoras(a maioria em péssimas condições), quando antes utilizavam somente um ônibus.

Na próxima parte, vamos saber como é a vida na montanha(mas não é em Petrópolis)! 

Continua na Parte 3